domingo, 17 de dezembro de 2017

Geni loci, djinns e o sangue das ninfas

 Histórias e lendas sobre essas classes de seres diferentes dos humanos são encontradas da África à Islândia. O reinado de Elizabeth I, considerada a "Rainha das Fadas", bem como as obras de William Shakespeare, trazem razoabilidade à suposição de que as pessoas aceitavam essa realidade. Várias teorias têm sido produzidas para explicar por que os encontros com as fadas diminuíram ao longo dos últimos 500 anos. Os Ashanti, no Oeste da África, têm uma lenda que diz que esses espíritos rejeitam os seres humanos por conta de nossas inclinações maldosas.

Genii Loci em baixo-relevo romano (cerca de 60 d.c)
A ideia de gênio ou genii loci tornou-se quase apagada da consciência. Esta é uma degeneração perturbadora dos valores espirituais, o que por sua vez se reflete na caçada deslocada ao caminho mágico ou espiritual, mais adequada ao indivíduo. Pouca atenção é oferecida ao espírito local, ou seja, a localização geográfica, ou o daimon que tenta nos orientar em nosso caminho de destino.
 Curiosamente, os genii loci encontraram recentemente um lugar dentro da arquitetura moderna, através dos trabalhos de Bangs e Norbergschulz. É como se o espírito da maçonaria operativa chamasse os espíritos da terra. Temos também o Feng Shui com base no poder nascido através dos habitantes da terra.

Os romanos geralmente representam os genii loci na forma de uma cobra.

 O imaginário ofídico é muito impressionante e vemos os mesmos temas surgirem no folclore dos Djinns, os belos habitantes dos desertos arábicos, em oásis e jardins. Na verdade, se olharmos mais atentamente, é possível alargar nossa percepção e compreensão sobre a reputação ambivalente das fadas ao observá-los.
Djinn ou jinn é etimologicamente derivado de genii ou "gênio" a palavra latina para "espírito tutelar." Esta etimologia é especulativa, e assim, embora a ideia da natureza múltipla dos genii ou daimon corresponda, em termos, com o djinn, a própria palavra é de origem muito diferente.

 A palavra djinn é possivelmente originária da raiz semítica, jinn, encontrada na palavra Jannah, que significa "Jardim" ou simplesmente Jardim do Éden. A palavra descreve um oásis ou jardim oculto ou velado, não alcançável pela percepção ordinária. É o coração que é necessário para se enxergar o Paraíso. Essas ideias refletem na noção de Elphame. Assim como as fadas ou elfos escandinavos, os djinns podem ser o auxiliar maligno do feiticeiro ou bom auxiliador, semelhante a um daimon ou espírito-guia para os sábios.

 A ambivalência também é encontrada nas classes de djinns, como o Ifrit e Marid. Diz- se que os Marid residem nos mares abertos e são mestres do clima. O ifrit é um djinn vil e ardoroso, que habita lugares desolados e assume uma forma de serpente. Iblis é considerado o rei dos Ifrits, bem como intimamente ligado à outra classe de Djinns, os Shaiatin. Esses djinns são cheios de ressentimento e deliciam-se com intrigas e mentiras. Eles consideram que todos os seres humanos escravizados constituam uma vitória, e podem tomar uma série de formas, que variam de serpente, chacal a belas mulheres.

 Observe as semelhanças entre os relatos sobre as consequências da ousadia ao lidar com os Djabs no Haiti e daqueles que buscaram o auxílio dos elfos negros na Escandinávia, ou ainda os muitos outros relatos de males causados por fadas. Claramente, Elphame, Hades ou Hell estão interligados. Um dos veículos para entrar em contato com o outro lado era a arte da necromancia.

 O livro VIII de Etimologias, escrito por Isodoro de Sevilha, enumera algumas práticas que são condenadas como magia. Estas incluem a adivinhação de qualquer tipo (presságios, oráculos e necromancia), remédios que usam encantamentos, sinais e amuletos, em razão de serem ilusões demoníacas e não científicas. Burchard de Worms, acrescentou à lista: passeios funerários, comer oferendas aos ídolos, em túmulos, fontes, árvores, pedras, encruzilhadas, honrar Júpiter e vestir cervos no meio do inverno. Um ponto no tratado de Burchard é digno de nota, já que esta é uma das acusações comuns que seriam usadas no ato de queima das bruxas. Burchard fala sobre vários tipos de superstitio no mundo greco-romano, a crença em sátiros e duendes, lobisomens, ninfas das florestas e as três parcas - os princípios básicos do ofício tradicional até hoje.

 Estes encontros extáticos com o outro lado passaram por um processo de degeneração. As mulheres, e a sexualidade em particular, foram objetos de condenação grave. E um dos piores atos de práticas relacionadas com o diabo era a prática, muito frequente e vivida no imaginário - das mulheres lascivas ou feias que se envolviam em rituais de amor e morte. Elas eram capazes de cavalgar com os demônios à noite, tanto com a Diana romana quanto com a Hilda/Holda germânica. As cavalgadas ao Sabbath para se festejar e se divertir estavam entre as mais usadas acusações durante o Witch-craze, ou seja, a paranoia europeia nos séculos XV e XVI. Na hagiografia deste período é possível ler sobre santos que viam através das ilusões dos demônios e que os repeliam, armados com a Palavra de Deus e o Sinal da Cruz.

 O antídoto para a magia era a fé cristã. Os santos se tornaram os magos da nova fé, mas não era magia. Era, ao invés disso, milagre; e os ídolos dos deuses pagãos foram substituídos por ícones e estátuas dos santos. Bonifácio, o missionário dentre os saxões, cristianizou-os  ao converter as práticas já existentes pelas cristãs, ao dar novos significados cristãos aos cultos estabelecidos. Simplesmente se dizia aos sábios que recitassem outras orações sobre seus encantos e amuletos, e usassem o sinal da cruz para abençoar objetos.

Fonte:‘A arte dos indomados’ de Nicholaj de Mattos Frisvold,

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