sábado, 16 de dezembro de 2017

A Teoria Básica do Yin e o Yang na arte do Kung Fu

A princípio não figurativa em meus planos incluir esta seção já que este livro trata somente das técnicas básicas. No entanto, ao pensar pela segunda vez, creio que o leitor se verá altamente beneficiado por este conceito chinês da vida.

Muito provavelmente sua técnica (não importa que sistema esteja seguindo), se verá, também, melhorada em grande forma.

A estrutura básica do Kung Fu se baseia na teoria do Yin e do Yang, um par de forças mutuamente complementares que atuam continuamente, sem cessar, neste universo.

Esta forma de vida chinesa pode ser aplicada a qualquer coisa, mas nós estamos interessados em uma relação com a Arte do Kung Fu.

A parte negra do círculo se chama Yin. O Yin pode representar qualquer coisa do universo: negativismo, passividade gentileza, feminilidade, lua, obscuridade, noite, etc... A outra parte  complementária do circulo é o Yang, que representa o positivismo, atividade, firmeza, homem, sol, luminosidade, dia, etc.

O erro mais comum é identificar este símbolo Tai Chi do  Yin/Yang como dualidade, quer dizer, Yang como contrário a Yin e vice-versa.

Até que não separemos esta "Unidade" (ou este "Todo") em dois, não alcançaremos a realização. Na realidade, todas as coisas têm sua parte complementária é somente na mente do homem e em sua percepção que eles são separadas como opostas.

O sol não é o oposto da lua já que se complementam e são interdependentes e nós não podemos sobreviver sem qualquer deles.

Da mesma forma um ser masculino não é senão o complemento do feminino pois sem a existência do masculino como saberíamos da existência do feminino e vice-versa?

A "unidade" do Yin/Yang é necessária para a vida.

Se uma pessoa que monta uma bicicleta deseja ir a alguma parte, não pode exercer força sobre ambos os pedais ao mesmo tempo, nem exercê-la sobre nenhum.

Com o fim de avançar, tem que empurrar um pedal e soltar o outro.

De maneira que o movimento de avançar requer esta "unidade" de empurrar e soltar. Por conseguinte, empurrar é o resultado de soltar e vice-versa, sendo cada um a causa do outro.

No símbolo Yin-Yang há um outro branco na zona negra e um ponto negro na branca. Isso serve para ilustrar o equilíbrio da vida, posto que nada pode sobreviver por muito tempo funcionando para qualquer extremo - seja o negativismo ou o positivismo.

Por conseguinte a firmeza deve ser dissimulada pela gentileza e a gentileza deve ocultar-se na firmeza  e é por isso que um praticante de Kung-Fu deve ser flexível como uma mola.

É de observar que a árvore mais rígida é a que mais facilmente se quebra enquanto que o bambu se dobra segundo a direção do vento.

Do mesmo modo, seja no Kung Fu ou em qualquer outro sistema, é preciso ser gentil sem ceder completamente; ser firme mas não duro e ainda quando se é forte se deve resguardar da força com brandura e ternura, pois se não há brandura na firmeza, não se é forte; de uma maneira similar, se se possui firmeza dissimulada com brandura, ninguém poderá penetrar a própria defesa.  Este princípio de moderação provê o melhor meio de auto preservação, pois já que aceitamos  a existência da unidade (Yin e Yang) em tudo e não lhe aplicamos um tratamento de dualidade, asseguramos, dessa maneira, um estado de tranquilidade permanecendo separados e não inclinando-nos  para algum extremo.

Ainda quando nós inclinamos para um dos extremos, seja o positivo ou o negativo, fluiríamos com ele a fim de controlá-lo.

Esta maneira de fluir com ele aderir-se a ele é a verdadeira forma de libertar-se dele.

Quando os movimentos de Yin/Yang fluem para os extremos, ocorre a reação. Porque quando Yang vai ao extremo, se transforma em Yin e quando Yin (ativado por Yang) vai ao extremo regressa a Yang (assim é que cada um é resultado e causa do outro). Por exemplo, quando se trabalha até  ao excesso, se cansa e se tem que descansar (do Yang e Yin). Depois do descanso, pode trabalhar de novo (do Yin ao Yang). Esta incessante mudança de Yin e Yang é sempre contínua. 

A aplicação da teoria do Yin/Yang no Kung Fu se conhece como a Lei da Harmonia, na qual se deve estar em harmonia com, e não contra, a força do oponente. Suponhamos que A aplica força a B, B então não deve se opor nem ceder totalmente.

Porque estes não são senão os extremos opostos à reação de B. Por outro lado, ele deveria COMPLETAR a força  de A, com força menor, levando-o para a direção de seu próprio movimento.

Assim como o açougueiro conserva sua faca cortando ao longo do osso e não contra ele, um homem no Kung Fu se preserva seguindo os movimentos de seu oponente, sem oposição, sem disputar.

(Wu Wai, ação espontânea ou espiritual). Esta assistência espontânea ao movimento de A, tal como o dirige, resultará em sua própria derrota.

Quando um homem no Kung Fu finalmente compreendeu a teoria do Yin/Yang, ele já não jogará com a chamada gentileza ou firmeza. 

Ele simplesmente faz, atua de acordo com os requerimentos do momento. Efetivamente, todas as formas convencionais e técnicas se acabaram, seus movimentos são os de todos os dias.

Ele não tem necessidade de justificar-se como tantos outros mestres se viram obrigados, manifestando seu espírito ou sua força interna (chi).

Para ele, com vista a um grande futuro, o cultivo da arte marcial regressará  à simplicidade; somente pessoas de pouca cultura se justificam e se gabam.


Bruce Lee
Oakland, California. 

[Tradução do Livro "Chinese Kung Fu - The Philosophical Art of Self-Defense" By Bruce Lee.]

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