Por Guilherme Bitencourt
Atualmente, o debate sobre o papel do Estado e a privatização dos serviços públicos está em alta, refletindo uma polarização entre ideologias econômicas divergentes. Defensores do neoliberalismo advogam por um Estado mínimo, enquanto críticos argumentam que essas políticas exacerbam as desigualdades e prejudicam a classe trabalhadora. Esta análise visa explorar os efeitos da privatização e desconstruir a narrativa do "Estado inchado", evidenciando a inadequação das reformas neoliberais na realidade brasileira.
Os proponentes do neoliberalismo frequentemente clamam pela redução do tamanho do Estado e pela privatização de serviços públicos como solução para um suposto excesso de burocracia. No entanto, dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o Brasil tem uma das menores proporções de funcionários públicos em relação à população comparado a outros países desenvolvidos. Em 2021, a força de trabalho no setor público no Brasil representava apenas cerca de 8% do total, enquanto a média dos países da OCDE é de aproximadamente 13% (OCDE, 2022). Essa discrepância evidencia que a noção de um "Estado inchado" no Brasil é, de fato, uma construção ideológica que não reflete a realidade.
O discurso neoliberal, amplamente disseminado pela mídia e redes sociais, promove a ideia de que a privatização e a redução do papel do Estado são sinônimos de eficiência e progresso. Contudo, essa retórica frequentemente ignora os impactos reais sobre a qualidade de vida e a equidade social. As reformas trabalhista e previdenciária no Brasil exemplificam esses impactos. A Reforma Trabalhista de 2017, implementada durante o governo de Michel Temer, prometeu criar mais empregos e estimular a economia, mas resultou em precarização das condições laborais e aumento das desigualdades. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a reforma contribuiu para uma alta na taxa de informalidade e para a redução dos salários médios (IBGE, 2020).
A Reforma da Previdência de 2019, estabelecida pela Emenda Constitucional 103 durante o governo de Jair Bolsonaro, também seguiu a lógica neoliberal ao prometer um sistema mais sustentável. No entanto, estudos indicam que essa reforma dificultou o acesso à aposentadoria para muitos trabalhadores, especialmente os mais pobres, e não resolveu os problemas estruturais do sistema previdenciário (Fonseca & Campos, 2021). A reforma visava equilibrar as contas públicas e garantir a sustentabilidade do sistema previdenciário, mas na prática, acabou tornando o acesso à aposentadoria mais difícil para uma parcela significativa da população.
Além disso, quando analisamos países desenvolvidos com uma presença significativa do setor público, como os países nórdicos, observamos que esses sistemas frequentemente garantem altos níveis de desenvolvimento humano e igualdade social. Em contraste com a narrativa neoliberal, a presença robusta do setor público na Suécia e na Dinamarca não é associada a um "Estado inchado", mas sim a altos níveis de qualidade de vida e justiça social (OECD, 2023).
No Brasil, a crítica ao mito do "alto salário no setor público" é igualmente relevante. Muitos servidores públicos estatutários ganham salários modestos, muitas vezes abaixo de três salários mínimos, desafiando a visão popular de que o funcionalismo público é responsável por altos custos para o Estado (IPEA, 2022).
Portanto, a crítica ao neoliberalismo deve ir além da análise superficial das políticas de privatização e do tamanho do Estado. É necessário considerar as complexas interações entre o setor público e privado, avaliar os impactos das reformas na classe trabalhadora e refletir sobre as verdadeiras necessidades sociais. O debate deve ser fundamentado em evidências e buscar soluções que promovam a justiça social e o bem-estar coletivo, em vez de perpetuar uma narrativa que beneficia apenas uma minoria em detrimento da maioria.
Referências
– Fonseca, A., & Campos, A. (2021). Impactos da Reforma da Previdência sobre a Aposentadoria e Desigualdades. Estudos Econômicos, 51(3), 477-495.
– IBGE. (2020). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
– IPEA. (2022). Análise do Salário no Setor Público. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
– OECD. (2022). Government at a Glance 2021. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
– OECD. (2023). Health at a Glance: OECD Indicators. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
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