Particularmente, o sangue que inflama a sabedoria fala da origem angelical, é um sangue estelar. Os anjos estão frequentemente envolvidos no nascimento de indivíduos únicos, como Jesus Cristo, anunciado por um anjo do Senhor que carregava esta semente em particular. Nas últimas décadas temos assistido a um crescente interesse pelo sangue estelar de Lúcifer. Os motivos luciferianos têm circulado há pelo menos mil anos, mas no contexto da Arte, Madeline Montalban e sua Order of the Morningstar podem ser notados como anunciadores de um renovado interesse no tema luciferiano. Curiosamente, Montalban introduziu o nome Lumiel, ao invés de Lúcifer, e o via como o anjo protetor da Terra e da humanidade. O mesmo poder angélico também está nas obras do falecido bruxo britânico, Andrew Chumbley.
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Lumiel |
Michael Howard, um estudante de Montalban e coautor do livro "The Pillars of Tubal Cain", ao lado do escritor Nigel Jackson, fornece os atributos e domínios de Lumiel como um homem sem idade definível, vestido com um manto branco e brilhante, portando uma estrela brilhante e branca em sua testa, e com o pescoço adornado com uma cruz Tau prateada, entrelaçada com uma serpente. Ele é visto como um anjo cuja preferência é a de ensinar às mulheres e como uma fonte de auxílio quando tudo mais falhar. Diz-se que sua cor é o violeta e suas pedras são a esmeralda e o cristal.
Deidades que refletem alguns de seus traços são Osíris, Ptah, Adonis, Tamuz, Átis, Mitra, Balder, Lugh, Dioniso, Pã, Krishna e Cristo. Todas estão relacionadas com o sacrifício e o mistério a partir do qual emerge o ensino. Destas formas conexas podemos dizer que são os mistérios de Osíris, Tamuz, Mitra, Dionísio e Cristo que mais retratam a essência de Lumiel, como vemos na descida celeste e o sacrifício terrestre. Através de tal descendência o Arcanjo da Terra foi estabelecido para observar e iluminar o mundo.
Vários mitos da Arte dão grande importância ao relato no sexto capítulo do Gênesis, que fala da queda dos guardiões. O relato da queda, no primeiro capítulo do livro de Enoch, define mais claramente a natureza da queda. A corrupção angelical é resumida de uma maneira interessante pelo clérigo e historiador Daniel Defoe, em 1667, em sua história das artes negras.
"Mas mesmo que ele tenha sofrido o martírio pelo seu plano (e sendo expulso de ambos os reinos por isto), não podemos provar que ele tenha alcançado seus objetivos com esse projeto, por isso temos de esperar até que ele queira ir adiante com este experimento. Voltemos para o tempo antes do dilúvio, ao velho mundo, apesar de suas maldades, eles tinham algumas sombras divinas com eles e por alguns anos, se não centenas de anos, se não centenas de anos, eles mantiveram seus caracteres como filhos de Deus, antes de serem levados às promiscuidades com as filhas dos homens. Em outras palavras, antes que misturassem a Raça dos Anjos com a semente corrompida de Caim, e seu sangue fosse fundido com idólatras. Aqui temos uma descrição exata da era. Quero dizer, naqueles primeiros dias da Raça (de humanos), é evidente que era, então, como é agora. As senhoras eram os Diabos da era, a beleza, as festas e os rostos finos eram as iscas, onde o inferno se escondia nos sorrisos destas mulheres tão encantadoras. Eles eram magos e tomavam de imediato a Palavra, da maneira mais tola, e lá encontramos a Bruxaria, e a sua força era tão irresistível que até tentava os filhos de Deus."
Da mesma forma, encontramos em vários mitos da Arte europeia os mesmos temas básicos. Dentre os vários praticantes da Arte italiana ou Stregoneria, a sabedoria bruxa relacionada é encontrada, como observamos no Evangelho de Arádia, de Leland, e no Mastering Witchcraft, de Paul Huson. O princípio é descrito como uma vasta escuridão ,por onde Diana cria a noite e o dia ao dividir a si mesma. Ela mantém a regência da noite e fornece a regência do dia a seu irmão, Lúcifer, o Sol.
Diana, na forma de uma gata, ou seja, comportando-se como uma gata sedutora, seduz seu irmão e dá à luz Heródias.
O mesmo motivo é visto na interação entre Na'amah, a sedutora da Mesopotâmia, e Azael, que repete um mito mais antigo de sedução, onde Lilith seduz Schamash, Schamash, o Sol, tornou-se o Sol no reino da noite, e a ele foi concedido o fogo utilizado para acender sua forja de ferreiro.
Vemos a mesma ideia expressa na tensão entre Tubal Caim e Na'amah - a raiz da queda e da redenção. Foi Na'amah que causou a queda.
Existem muitas explicações a respeito de como esta queda lendária tenha sido realmente - geralmente de cunho moralista ou sentimental. Dionísio, o Areopagita, em sua obra. A Hierarquia Celeste relaciona "A Queda" à observação sóbria concernente à hierarquia ou harmonia:
"A hierarquia é, em minha opinião, uma ordem sagrada, conhecimento e atividade que, na medida do possível, participa da semelhança divina, e é erguida às iluminações que lhe foram dadas por Deus."
Eu sugiro que "a queda" seja simplesmente um deslocamento do centro espiritual. Perder de vista o centro vibrante provoca uma ruptura na harmonia estabelecida, o que significa que a queda dos guardiões foi simplesmente um movimento para longe de sua estação harmoniosa. Deslocados de suas próprias estações a queda acendeu nos humanos uma semente da frustração e corrupção, nascida do desejo descabido de seus pais angelicais.
Os anjos caíram de uma ordem completamente diferente, não de uma ordem moral inferior e terrestre que tem sido imposta às hostes angelicais. A palavra usada em hebraico para designar a semente corrompida, em Gênesis 6:11, é derivada da raiz shachath, que significa "decadência", "destruição" e "dano" e é da mesma raiz encontrada na palavra chamath, que significa "crime"que também é usada no capítulo 6 do Gênesis para designar as formas corrompidas. Há uma conotação sexual explícita nesta palavra, relacionada à perversões, e dada a conotação violenta da palavra, a perversão era violação de mulheres.
O Gênesis conta que os Nefilims tomaram quem eles queriam das mulheres, O comentário sobre a Torah, Yalkuth Me'an Lo'ez, editada pelo falecido Aryeh Kaplan, aponta que a palavra nefilim também pode ser escrita como nefalim (a Torah não contém pontos vogais) que significa "criança abortada". Era comum entre os hebreus o uso de filtros feitos de ervas para provocar abortos nos casos em que a mulher tinha sofrido estupro ou engravidado de outro homem que não fosse seu marido.
A doutrina rabínica sugere que a mera fantasia de uma outra pessoa durante o coito irá trazer as qualidades da pessoa para a criança. Os nefilim tinham a reputação de serem incrivelmente belos e capazes de provocar a luxúria e pensamentos eróticos na mente e no coração das mulheres. Esta pode ser a razão pela qual os nefilims foram chamados de Anshey Shem, ou "Nomes de Renome".
Os Nefilim eram chamados por outros sete nomes. Eymin, que se refere ao medo, à condição encontrada quando nos confrontamos com o risco de vida. Também são Refa'im, porque as suas vozes fazem o coração virar cera. Eram chamados também de Gibborim e Zamzumim, devido às suas compleições físicas, fortes e prontos para a batalha. E também de Anakim, de anak, o Sol e, portanto, relacionados ao eclipse solar, que ofuscava a luz do "motor imóvel", o polo da justiça.
E eles eram, também, Awim, uma palavra emprestada do aramaico, que significa simplesmente "cobra" no sentido de "algo que vive do pó".
O Talmud fala de um árabe que viajava com o rabino Chana no deserto, e que navegou de volta à civilização ao cheirar e provar a areia. Algumas partes da semente angelical e serpentina seguiram rumo à corrupção e isso provocou o dilúvio. Noé teria entrado em sua arca com sua esposa, Namá, e gerou outra raça de homens, na qual a semente não havia sido corrompida, que seguiu para os montes Hermon e Sinai. Esta era a raça de Seth, terceiro filho de Adão, que estudaremos mais profundamente no capítulo 4.
A origem do sangue das bruxas está relacionada à queda. Voltemos às hierarquias celestiais e a natureza da terceira ordem de anjos, os Tronos, de onde a queda ocorreu.
"No terceiro nível estão aqueles que, a partir de sua unidade, simplicidade, constância e firmeza, são às vezes chamados de Tronos, e às vezes. Assentos, que são igualmente sábios e amorosos. Mas de sua simplicidade eles têm os atributos da unidade, poder, força, coragem, firmeza. Os mesmos atributos que os Querubins e Serafins também possuem...Firmeza vem da simplicidade, simplicidade da purificação. Pois quando cada objeto é purificado ele volta à sua própria natureza simples, então, não composta, continua indissolúvel através de sua unidade. De onde resulta que a purificação é atribuída aos Tronos. Além disso, quando uma coisa é purificada, é iluminada, e depois que é iluminada, ela é perfeita. Este último oficio é dado aos Serafins, o outro aos Querubins."
Falando de terceira ordem de anjos, vemos um pálido eco da importância do número três em contos e fadas e mitos da bruxaria, novos e antigos. Esta terceira ordem de anjos tem uma correlação específica com o terceiro céu, o Shehaqim, e é aqui que os segredos da Queda são encontrados.
Terceiro céu é descrito no Segundo Livro de Enoque (também chamado de o "Livro dos Segredos de Enoque") como o local original do Jardim do Éden. Aqui encontramos a Árvore da Vida. É um céu curioso pois shehaqim, como é chamado, tem uma qualidade dupla. Ao norte deste céu está o portão para o inferno, onde os sodomitas, bruxas, feiticeiros e outras pessoas que cometem "pecados contra a natureza" são enviados. Também tem a fama de ser a encruzilhada entre a corrupção e incorruptibilidade.
O terceiro céu é um esboço geométrico do paraíso original. O inferno em seu Norte denota um dos epitetos de Lilith, que é "Aquela do Norte". A angeologia islâmica diz que Jibrail levou Muhammad a este céu e lhe mostrou o Paraíso. Caim foi exilado para o Norte.
Comentaristas rabínicos dizem que Anahael tem seu domínio aqui e místicos cristãos dizem que esse céu é de Azrael.
A topografia do terceiro céu permite nos compreender a verdadeira natureza do Jardim do Éden. Neste céu encontramos as origens angelicais do sangue da bruxa. Isto é apresentado na seguinte passagem do Segundo livro de Enoque, em um manuscrito eslavo que provavelmente foi traduzido a partir de um original grego perdido.
"Viii
E aqueles homens tomaram-me então e levaram-me até ao terceiro céu, e lá me colocaram; e eu olhei para baixo, e vi o que era para ser encontrado nestes lugares, que nunca foi conhecido pela bondade.
2. E eu vi todas as árvores de doce floração e eu olhei para os seus frutos, que tinham um cheiro doce, e todas as comidas nascidas delas borbulhavam com êxtase perfumado.
3. E no meio das árvores estava a árvore da vida, naquele lugar onde o Senhor repousa, quando ele sobe ao paraíso; e esta árvore é de bondade e fragrância inefável, e adornada mais do que qualquer coisa existente, e por todos os lados é dourada e vermelha, e o fogo cobre todos os seus frutos.
4. Sua raiz está no jardim, no final da terra.
5. E o paraíso é entre corruptibilidade e a incorruptibilidade.
6. E duas fontes fluem de lá, e enviam mel e leite,e suas nascentes enviam o azeite e o vinho, e eles se separam em quatro partes, e seguem ao redor em curso calmo, e descem ao PARAÍSO DO EDEN, entre corruptibilidade e incorruptibilidade.
7. E então eles saem ao longo da terra, e dão uma volta em seu círculo, como quaisquer outros elementos.
8. E aqui não há árvore sem frutos, e todo o lugar é abençoado."
Extraído do Livro: A Arte dos Indomados, Nicholaj de Mattos Frisvold