Esse é o mover contrário ou reação à primeira forma e é o meio pelo qual a unidade pode ser restaurada, procurando dispor coisas em combinações e relacionamentos. A Atração é ativa, enquanto a Austeridade é passiva. É o desejo que nos conduz sempre em frente e, portanto, é insaciável. A tensão entre essas duas formas provoca a terceira forma de Natureza que Boehme chama de Amargura, o sentimento de tensão ou aquilo que G.W. Allen denomina de esforço de ser puxado de duas maneiras, de ter uma ferida incurável causada pela divisão. Uma tensão que pode nos levar a penitência e esperança ou ao desafio e desespero.
Sem essa tensão ou fricção, surge a quarta forma, o Fogo. É nesse ponto, quando a primeira tríade, comparável à noção filosófica de tese, antítese e síntese, se manifesta, que a consciência de si mesmo aparece e, portanto, também a possibilidade de escolha, refletida na natureza ambivalente do fogo.
É difícil para nós, atualmente, com nossa eletricidade e aquecimento central, lembrar com facilidade do papel que o fogo desempenhava na vida cotidiana na época de Boehme. O fogo era produzido por pederneira dura e a faísca ou Funkelein era a imagem da vida divina, de Eckhart em diante. Também era, como devemos ver, uma das primeiras características da Alquimia. Boehme obviamente viu fogo sendo usado para aquecer e trabalhar metais e usa essa imagem frequentemente. Quando uma barra de metal é aquecida, ela não arde em brasa imediatamente, existe um período de aquecimento obscuro, quando isso pode ser doloroso e prejudicial. Essa é a primeira etapa da evolução. O esforço e a fricção aumentam e o fogo eventualmente alcança seu ardor luminescente; mas, antes dessa etapa final, há uma intermediária de ficar em brasa quando existem alguns elementos de luz e também de calor, porém a luz é fraca e baixa e apenas revela as coisas vagamente. Essa é a meia-luz na qual o homem pecaminoso vê coisas e fica cheio de ganância, ira e orgulho.
Mas o processo pode continuar até que o aço arda incandescente, provocando a quinta forma, a Luz - a luz verdadeira e a luz da verdade. A medida que essa luz aparece o fogo exaltado desvanece em um calor calmo e agradável, sua ira tendo virado luz.
Nessa luz, as primeiras três formas mudam seu caráter contencioso e se tornam calmas, dóceis e harmoniosas. Elas estão reconciliadas com suas interdependências e com o papel que todas desempenham na "grande obra". "É a mudança", diz Allen, "que pode ser chamada de passagem da consciência de si mesmo para consciência cósmica", ou seja, quando, em vez de pensar que o Universo foi feito para nós, percebemos que formos feitos pelo todo universal para servir a um propósito maior que a gratificação de si mesmo.
À sexta forma de natureza, Boehme chama de Som (Ton). A idéia de som estava conectada na mentalidade medieval a dois conceitos: o de ordem de Deus que falou e foi feito; e também com a noção de harmonia, a harmonia das esferas, a música celestial na qual todos os sons individuais conflitantes eram harmoniosamente unidos em perfeita concórdia.
Essas seis formas de Natureza estão em acordo com os seis dias da criação, sendo seis, como Santo Agostinho disse, o número perfeito que representa as seis extensões infinitas de tempo e no espaço. São Clemente de Alexandria disse de Deus: "Ele é o Alfa, e o Ômega, nele estão completas as seis extensões infinitas de tempo e, a partir delas, elas se estendem rumo ao infinito e nisso consiste o segredo do número 7."
Na sequência de Boehme, a sétima e derradeira forma de Natureza é a Figura, a realização total ou expressão ideal ou configuração do todo que é maior que a soma de suas partes. Todas as partes do todo são vistas como signos de um todo, cada parte individual apontando para o todo e dotando-o de sua significância ou sentido.
Espero que o suficiente tenha sido dito para permitir ao leitor encaminhar com alguma confiança sua própria viagem de descoberta.
Os números para Boehme, como para todos os seus contemporâneos, estavam imbuídos de um significado muito além daquele da matemática elementar. Eles apontavam para uma realidade inatingível de outra maneira. Não surpreende, portanto, que para Boehme, crente cristão como ele era, o número 3 devesse ter um significado especial. Os Três Princípios de Boehme são de fato a reelaboração de sua exposição das sete formas em uma base ternária.
Fontes: Jacob Boehme, editora Madras.
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