Por Tess Joose
Meu cachorro Leo sabe claramente a diferença entre
minha voz e os latidos do beagle ao lado. Quando falo, ele me olha com
amor; quando nosso vizinho canino dá a conhecer sua mente, Leo late de
volta com desdém. Um novo estudo confirma o que eu e meus colegas donos de
cães suspeitamos há muito tempo: os cérebros dos cães processam vocalizações
humanas e caninas de maneira diferente, sugerindo que eles evoluíram para
reconhecer nossas vozes a partir de suas próprias vozes.
“O
fato de os cães usarem apenas informações auditivas para distinguir entre sons
humanos e caninos é significativo”, diz Jeffrey Katz,
neurocientista cognitivo da Auburn University, que não está envolvido no
trabalho.
Pesquisas anteriores descobriram que os cães podem
combinar vozes humanas com expressões. Quando é reproduzido um clipe de
áudio de uma senhora rindo, por exemplo, eles geralmente veem uma foto de
uma mulher sorrindo.
Mas como exatamente o cérebro canino processa os
sons não está claro. A ressonância magnética mostrou que certas regiões do
cérebro do cão são mais ativas quando um filhote ouve outro ganir ou
latir. Mas essas imagens não podem revelar exatamente quando os neurônios
no cérebro estão disparando e se eles disparam de maneira diferente em resposta
a diferentes ruídos.
Assim, no novo estudo, Anna Bálint, neurocientista
canina da Universidade Eötvös Loránd, recorreu a um eletroencefalograma, que
pode medir ondas cerebrais individuais. Ela e seus colegas recrutaram 17
cães da família, incluindo vários border collies, golden retrievers e um pastor
alemão, que foram ensinados a ficar parados por vários minutos de cada
vez. Os cientistas colocaram eletrodos na cabeça de cada cão para
registrar sua resposta cerebral – não é uma tarefa fácil, ao que
parece. Ao contrário das cabeças ósseas dos humanos, as cabeças dos cães
têm muitos músculos que podem obstruir uma leitura clara, diz Bálint.
Os pesquisadores então reproduziram clipes de áudio
de vocalizações humanas e caninas. Os sons humanos incluíam apenas
vocalizações não linguísticas, como balbucios de bebês, risadas e tosse,
enquanto os sons de cães incluíam fungar, ofegar e latir. Cada som foi
classificado como transmitindo uma emoção “positiva” ou “neutra”, com base no
contexto em que foram feitos, como o ganido animado de um cachorro brincando
com uma bola. (Os pesquisadores não incluíram nenhum som “negativo” para
não assustar os filhotes.)
Para cada um dos ruídos, os cães experimentaram uma
mudança nas ondas cerebrais nos primeiros 250 a 650 milissegundos. Nos
cérebros humanos, as diferenças de sinal nesse período de tempo estão
associadas à motivação e à tomada de decisões. Isso sugere a Bálint e seus
coautores que os filhotes estão tentando descobrir quem ou o
que está fazendo o som – e como responder. O cérebro dos cães não
produziu nenhum sinal significativo nos primeiros 250 milissegundos, o período
de tempo em que os humanos tendem a processar qualidades sonoras como o
tom. Isso sugere, diz Bálint, que os cães não estavam simplesmente
percebendo que as vozes soavam diferentes.
Além disso, quando as ondas cerebrais dos cães
atingiram o pico na faixa de 250 a 650 segundos, elas dispararam de forma
diferente dependendo de quem estavam ouvindo. As ondas foram mais
eletricamente positivas em resposta às vocalizações humanas e mais
eletricamente negativas em resposta aos sons caninos, relatam os pesquisadores
hoje na Royal Society Open Science.
Bálint enfatiza que “positivo” e “negativo” neste
caso se referem à mudança de voltagem elétrica do cérebro, e não à intensidade
do sinal ou à preferência do cão em ouvir um som em detrimento de
outro. Mas a diferença de voltagem entre as ondas desencadeadas por sons
humanos e aquelas desencadeadas por sons de cães era gritante, diz ela. Os
cérebros dos cães estão processando os dois tipos de som de maneiras
diferentes, mas ainda não se sabe exatamente como.
Alguns dos sons que os pesquisadores usaram eram
claramente específicos da espécie, como um latido ou uma risada, diz Rochelle
Newman, que estuda como cães e humanos processam a linguagem na Universidade de
Maryland, College Park. Mas outras vocalizações no estudo podem não ser
tão facilmente analisadas. “Não sei se bocejos humanos e caninos são
acusticamente distinguíveis”, diz ela. Se não forem, os cães podem estar
distinguindo os sons com base em outros critérios adicionais.
Mas Katz diz que os dados são robustos – e
importantes. Saber como os cães processam o som pode, entre outras coisas,
ajudar os especialistas caninos a treinar melhor os cães de serviço ou de
trabalho. Bálint gostaria de testar como os cérebros dos cães reagem a
outros tipos de estímulos, mas não até que ela repita esse experimento com mais
cães. Isso não é um passeio no parque: “Você
teria que treinar mais cães para ficarem completamente parados por pelo menos 7
minutos”, explica ela.